Diversidade no ensino superior: desafios na inclusão de minorias

23 de agosto de 2023

Apesar dos avanços, o ensino superior brasileiro ainda é majoritariamente branco e com presença pequena de grupos minoritários

Se a educação é o caminho mais eficaz para o processo de inclusão social, não fica difícil entender porque é tão importante abordar a presença de minorias em sala de aula. Mas para explorar melhor a diversidade no ensino superior é preciso ter um olhar para os dados, e eles não são exatamente animadores.

Do ponto de vista racial, enquanto o último censo do IBGE aponta que os negros (pretos e pardos) formam 56% da população brasileira, uma pesquisa do site Quero Bolsa revelou que eles são ainda minoria no ensino superior, com pouco mais de 38% dos estudantes. Esse percentual é resultado de um crescimento de cerca de 400% na presença de negros nas insituições de ensino superior brasileiras entre 2010 em 2019, mostrando que há pouco tempo a situação era ainda mais dramática. 

Já quando se fala em pessoas com deficiência, os dados também não são animadores. De acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE neste ano, o Brasil tem cerca de 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, ou 8,9% da população do país. No entanto, eles são menos de 1% entre os estudantes de instituições de ensino superior no Brasil. 

No recorte por gênero, as mulheres são maioria entre os alunos desde meados dos anos 1990, e tem um percentual maior de pessoas com diploma do ensino superior que os homens. No entanto, fica difícil falar em diversidade no ensino superior quando os homens ainda são a maioria entre os professores (52%). Além disso, diversas pesquisas evidenciam que os homens ocupam mais posições de liderança e melhores salários, dissolvendo a vantagem feminina na formação superior. 

A representatividade sexual e de gênero também é um problema quando o assunto é diversidade no ensino superior. De início, fica difícil até mesmo entender a presença de pessoas LGBTQIA+ nas instituições, já que há um apagão de dados. Para efeito de reflexão, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) publicou uma pesquisa que tem um recorte muito específico: somente graduandos das instituições federais de ensino superior do país. Nesse montante, somente 0,2% dos estudantes eram transexuais ou travestis. 

Ambiente de respeito

O diretor acadêmico da Faculdade UniBRAS Santa Inês, José Nilton Dourado da Silva, é um entusiasta do tema. Como um homem negro, ele se orgulha em ter na insituição uma grande diversidade de pessoas dos mais variados perfis. De acordo com o docente, as característica demográficas da região em que a instituição de ensino está localizada – estado do Maranhão – possibilita uma forte presença de negros na comunidade acadêmica, incluindo quilombolas. Também destaca a presença de alunos membros de comunidades indígenas, em especial da etnia Guajajara. 

“Nós sabemos que o preconceito existe, mas temos que fazer com que essas minorias tenham autonomia e lutem pela justiça”, destaca. Para ele, essa diversidade no ensino superior aumenta a valorização do diferente, a solidariedade entre os pares e a preparação no sentido de conviver no mercado de trabalho de forma harmoniosa. “Eu entendo que a academia ainda é um dos melhores espaços para o exercício das liberdades e do reconhecimento dos direitos coletivos”.

Ele também alerta que a questão etária é importante no processo de inclusão. De acordo com o gestor, há hoje na UniBRAS Santa Inês um diálogo forte com os coordenadores dos cursos no sentido de dar uma atenção especial às pessoas que antes não tinham acesso ao curso superior, e agora retomam às salas de aula para cumprir esse sonho. “Temos que nos adequar. Essas pessoas merecem uma atenção especial, e os exercícios de adequação dos nossos professores tem nos dado resultados muito positivos”.

Para José Nilton, entre as medidas para a criação de um ambiente acadêmico diverso, o respeito é o primeiro passo. “Tem que haver um espaço acolhedor, respeitoso, de compreensão. O ambiente precisa ser interativo, com respeito às crenças e opiniões”.

(Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação do Ecossistema Brasília Educacional)

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